A ti… “pai”!
Sei que muitos esperavam que me dirigisse a ti, no dito Dia do Pai! Mas tu és apenas e só pai, … sim, dito desta forma, … nem mais nem menos, sem tirar nem por, com todo o desprezo que te posso ter, reflexo apenas do que tu tens tido para connosco. Mas hoje sim, é para ti que escrevo!
Quando nasci tive um pai que me esperava ansioso, sofrido de mágoas passadas…. ensombrado pela perda de outra filha,… sei que fui tão desejada!
Com um ano eras doce, companheiro, terno, brincalhão, presente!
Aos dois já me esperavas nas brincadeiras, em qualquer lugar, com o mesmo sorriso gigante!
Aos três fazias-me voar, quase chegando ao teto em saltos imensos, perante o olhar assustado da avó Palmira.
Aos quatro andávamos de triciclo, felizes. Sim, aquele triciclo que apanhaste ao pé do caixote do lixo e me pintaste de cor-de-rosa!
Aos cinco puxavas-me pelo carrapito do cabelo, para me ensinar a nadar.
Aos seis começou o bichinho dos karts.
Aos sete a paixão foi ficando mais intensa. Ia contigo para as provas, falava com os teus amigos, … sentia-me crescida e importante ao teu lado!
Aos oito ofereceste-me o meu primeiro instrumento musical: o teclado que ainda hoje conservo, religiosamente.
Aos nove já me olhavas com um brilho nos olhos quando cantava o salmo na igreja.
Aos dez, sem dúvida, menina do papá! Oh, se era! 🙂
Aos onze aprendi a dividir a tua atenção com a Sara, de forma tão saudável e maravilhosa.
Aos doze éramos cúmplices inseparáveis.
Aos treze apreciava a tua garra e a tua fé.
Aos catorze admirava-te a entrega a tudo o que fazias.
Aos quinze tinha em ti o exemplo máximo a seguir.
Aos dezasseis eras confidente.
Aos dezassete zanguei-me contigo por não me deixares ir sozinha ao concerto dos DZRT.
Aos dezoito preparaste fogo de artifício para os meus anos. Afinal, dezoito anos são dezoito anos!
Aos dezanove foste comigo ao concerto dos DZRT.
Aos vinte amparaste as lágrimas do meu primeiro desgosto de amor.
Aos vinte e um éramos parceiros nas viagens para Aveiro, tantas vezes ao som dos Santa Maria, Seal, Phill Collins, Katie Melua, Nuno Norte, Men at Work…
Aos vinte e dois caminhavas comigo no Desfile do Enterro, festejando o fim do meu curso.
Aos vinte e três torceste o nariz quando arranjei o namorado que hoje é o pai da tua neta.
Aos vinte e quatro chocámos algumas vezes pois, como costumavas dizer “minha cabra, somos iguaizinhos”.
Aos vinte e cinco depositaste novamente a confiança em mim.
Aos vinte e seis era eu a tua confidente.
Aos vinte sete sorriste com a notícia de que ias ser avô.
Aos vinte e oito fui o teu amparo mais profundo.
Aos vinte e nove chorei contigo, pensei os problemas contigo, vivi-os na minha casa, que sempre teve as portas abertas para ti.
Aos trinta, a desilusão, a maior de todas, em toda a minha vida.
Obrigada por tudo o que um dia FOSTE para mim. Obrigada pelo que me ajudaste a construir, … pela pessoa que ajudaste a formar em mim, … pelo que hoje sou, … pelo que ontem fui e pela força que me ajudaste a tecer, … acredita, tenho precisado muito dela nos últimos tempos, … tenho mesmo.
Foste em tempos o meu apoio maior, … hoje, és apenas a mágoa mais sofrida que a vida me podia ter mostrado. Estejas onde estiveres, … fica, … Nesse caminho que decidiste traçar, continua, … hoje, fecha-se o ciclo. Hoje, as portas ficam um pouco mais trancadas. O coração ergue-se de novo, … os olhos tentam ganhar o brilho de antes, ainda que as marcas fiquem.
Passaram os anos da tua neta, … o Dia dos Avós, … o aniversário da pequena onde vieste de passagem com a sombra negra que eu já adivinhava há meses, … passaram ainda os anos da mamã, … o Natal, … o aniversário da Sara, … a minha chegada aos trinta! Porra, nem uma mísera palavra te mereci… nada, nada, nada, … nada de nada. Silêncio apenas!
Passou agora mesmo o Dia do Pai… mas de pai já pouco tens, … Precisava tanto de um pai presente, … mas o pai que hoje recordo é apenas um pai do passado, … no futuro? No futuro já não conto encontrar-te! A vida é vivida agora, … cada segundo que avanço sem ti só me mostra que quem quer estar longe, longe deve ficar.
Tento chorar todas as lágrimas, .. voltar a reunir forças. Onde quer que estejas, .. fica, reflete, … pensa, … sente, … sente tudo o que nos tens feito sentir a nós, … Imaginas como nos sentimos? Costumas pensar em nós quando estás em casa? Enquanto jantas? Quando te deitas? Pensas em como ficámos depois de tudo isto? Pois hoje só te peço: fica com a tua decisão, as tuas convicções, com a tua nova vida… aí… fica, apenas fica!
0 comentários
ana carneiro · 22 de Março, 2019 às 3:51
Joana,fazer o luto de uma pessoa que està viva é muito complicado.Segue com a tua vida para a frente,pela tua pequenita segue lutando pelo que acreditas e nunca te esqueças da tua MAE que precisa de se recontruir completamente!Um abraço acompanahdo de muitas làfrimas.amo-vos!
carlosamaralphotography · 22 de Março, 2019 às 11:30
Faço minhas as tuas palavras… 🙁