Mitos – Amamentação e atraso na fala/ linguagem?
No rescaldo da Semana Mundial do Aleitamento Materno, comemorada de 1 a 7 de Agosto, não podia deixar de vos falar deste tema que, em particular, tanto burburinho levantou desde a passada sexta feira.
Sou CAM (Conselheira em Aleitamento Materno) e, por isso, várias vezes sou chamada a esclarecer algumas mamãs e famílias, muitas das vezes em grupos de redes sociais. Qual não foi o meu espanto quando, na semana passada,uma outra colega CAM me chamou à conversa pois uma mãe lançou a sua dúvida e os seus medos, receios e culpas. A mãe tinha ouvido da boca de uma equipa médica que o atraso na fala e na linguagem do seu filho se devia ao fato de este ter sido amamentado. Fiquei a ferver só de ouvir isto, … de saber o sentimento terrível de culpa desta mãe!!! Tive logo que rebater isto, pois nem mito quase lhe posso chamar. Vindo de uma equipa médica, com conhecimentos científicos, esta é de todo uma informação errada, sem qualquer fundamento científico… totalmente o oposto do que a ciência apoia e justifica. A mãe sentia-se em baixo, culpada pelo seu ato de amor imenso que foi o de amamentar o se filho. Haverá ligação mais sincera, desinteressada e pura que esta? Como pode uma equipa médica o pôr sequer em causa? Como podem levar alguém a sentir-se desta forma? Onde moram a ética profissional e os bons princípios pessoais?
E foi aí que, depois de várias pessoas terem opinado e descansado aquela mãe, resolvi escrever e partilhar este texto com vocês. Não tão rápido quanto queria, pois o fim de semana foi de tempo muito preenchido com outros afazeres, mas faço-o agora!
Sem qualquer tipo de julgamento para as mamãs que não podem amamentar, ou que não o fazem por opção própria, este ato carrega em si a mais pura bondade e altruísmo que se conhece! É dar o próprio corpo a um ser imenso, indefeso, … sedento de amor, carinho, segurança, calor, nutrição… o melhor início de vida, como tantas vezes já aqui defendi.
A OMS preconiza que os bebés devem ser exclusivamente amamentados até aos 6 meses, devendo este ato prolongar-se, pelo menos, até aos 2 anos de idade, acompanhando a introdução da alimentação complementar (OMS,2001). Por aqui se percebe a sua relevância e o seu valor imenso! Tantos são os estudos que suportam a sua riqueza nutricional, emocional, … que fico incrédula com os mitos que ainda hoje circulam! Então quando são proferidos por profissionais de saúde, … fico louca!!!
Porquê julgar e ridicularizar mães que amamentam bebés que quase já não são de colo? Porquê assumir que quando um bebé já come como um adulto não precisa de tudo o que a amamentação lhe trás de bom? Já senti essas críticas na pele, e também o partilhei com vocês na altura da minha cirurgia de urgência à apendicite…sentimo-nos sem chão, … à beira de um ataque de nervos!
Porque haveria a amamentação de atrasar a fala e o desenvolvimento da linguagem? É das atividades mais completas e enriquecedoras para o desenvolvimento global de um bebé!!! Promove o desenvolvimento muscular e ósseo da face, … tudo o que a envolve! O movimento dos lábios, da língua, das bochechas, da maxila, da mandíbula, do palato, …(NEIVA et. al, 2003) … tudo a funcionar em harmonia, … todos os músculos a serem estimulados, trabalhados, fortalecidos! E a coordenação que é necessária entre o extrair o leite, comportá-lo na boca e engoli-lo, … sempre com a respiração controlada? Tudo a funcionar em harmonia, num frenesim perfeito e mágico!
Enquanto a língua gera as diferenças de pressão que fazem com que o leite seja expulsado pela mama da mãe está a ser fortalecida, trabalhada, … os seus movimentos são aprimorados e cada vez mais minunciosos, perfeitos! A criança experimenta padrões que mais tarde são muito úteis na articulação de vários sons da fala (os mais evidentes são o /l/, /s/, /z/, /t/ /d/ e /n/). Sons em que a posição da língua, variando em pequena amplitude, conduz a realizações na fala tão diferenciadas e que existem mais tarde na nossa língua, quando surgem as primeiras palavras e enquanto a linguagem progride! É o nosso corpo em adequação e aprendizagem constante! Como negar isso mesmo? Não compreendo! Em que livros de anatomia fizeram estes ditos “profissionais” os seus aprendizados?
Até o próprio crescimento dos dentes é influenciado pela amamentação! Quanto mais estimuladas as estruturas orais, melhor será o posicionamento da mandíbula em relação à maxila para que o surgimento das peças dentárias seja equilibrado e harmonioso (KYOTA, 2000). Para o futuro desenvolvimento da mastigação e da deglutição, a amamentação é mesmo o melhor início!
E a proximidade que uma mãe tem de um bebé amamentado? O contacto visual que se estabelece? O quanto fala com ele? Será que isso não promove a linguagem? A amamentação promove o desenvolvimento cranio-facial da criança e a sua afirmação motora-oral (CARVALHO, 2004), porquê contrapor estes dados? Quais as vantagens para quem defende esta posição? Porquê deixar os pais com o sentimento de culpa?
Tantas e tantas vezes são os profissionais, ainda na maternidade, a introduzir biberão, chupetas, … esses sim, está provado que podem dificultar o desenvolvimento da fala. O esforço que uma criança faz ao mamar num biberão não é o mesmo que quando o faz na mama da mãe! A estimulação das estruturas e músculos faciais é assim bem mais reduzida, em comparação com a da amamentação. Também a chupeta, para estar na cavidade oral, altera em muito a posição normal que a língua deveria estabelecer! E a forma que as arcadas dentárias assumem tantas vezes! Aí sim, há razão para alerta!
Quanto à amamentação: mamãs, sosseguem esses corações! O mito é falso, .. totalmente errado! Quanto mais maminha, mais estimulação! Mais amor próprio e pelo outro se gera! Quanta gratidão, quanto sentimento de missão cumprida! Que a culpa não os ofusque, … nem “profissionais” deste género que, vá se lá saber porque (ou sabendo: €€€€€€) tendem a desincentivar o processo mais natural e primordial da história da humanidade. Coragem mamãs! Maminha é saudável e em nada limita o progresso da fala e da linguagem nos nossos bebés! Um brinde a nós, à nossa garra. Este continuará sempre a ser o meu lema: “somos mães, somos guerreiras”!
2 comentários
Susana Carvalho · 29 de Agosto, 2019 às 20:32
Até eu fiquei q ferver logo nas primeiras linhas. É por isso que o meu filho c 2 anos que mama é uma fala barato. Articula td mr bem e tem vocabulário diversificado. Deve ser então por isso q o meu sobrinho que não mama ainda fala mt pouco. Eles falam qd têm q falar…mamem ou n mamem. Que raio de ideias!
joanaaterapeuta · 2 de Setembro, 2019 às 1:07
Mesmo Susana. Às vezes as pessoas dizem coisas sem pensar na real repercussão, … há pessoas que pouca ou nenhuma informação têm e confiam cegamente nas palavras dos médicos. Neste caso aqui podia ter corrido mal. Ainda temos muitas mentalidades a mudar, mas aos pouquinhos vamos lá 🙂 Um grande beijinho. Muitas felicidades a vocês e ao vosso príncipe! 🙂