“Um passo à frente” – abordagem ao desenvolvimento da comunicação e da linguagem na infância
“Um passo à frente”, “a escada seguinte”, … sem querer, estes termos que vou usando no dia a dia, com educadores, com professores, com os próprios pais e utentes, … nos workshops, … vão ficando nas suas memórias e pensamento e começam a ser usados mesmo por eles próprios. Tão bom saber que absorvem a essência da ideia que lhes tento transmitir. Tão positivo quando sinto que os usam de forma correta e os aplicam na sua prática diária!
Esta é a minha forma de abordar a evolução e desenvolvimento da comunicação e da linguagem. Sim, pois comunicar é tanto mais que linguagem, e infelizmente nem sempre se dá valor a estes pequenos avanços que vão surgindo.
Uma bebé que chora, comunica! É a sua forma primordial de se afirmar perante o mundo, de manifestar as suas necessidades. É a mais primitiva e é universal. Depois movimenta-se, … curva o seu corpo perante a dor da cólica, … sorri ante rostos familiares como o dos pais, … emite pequenos gritos,… Em seguida chega a fase da lalação, do balbucio, … as primeiras palavras, … os gestos, o apontar, … tudo e tudo!!! Tudo isto é comunicar! Um fervilhar sem fim, ávido de estímulos e de quem lhes dê continuidade, … o combustível perfeito para que a linguagem emerja na sua forma mais complexa e funcional.
Estranho deve ser para os pais e educadores quando estes pequenos grandes sinais não se manifestam desde os primeiros dias, … cada qual dos comportamentos acima enunciados, sendo demonstrados quase sempre por esta ordem, durante o primeiro ano de vida. Mas nem sempre estes marcos do chorar, sorrir, palrar, … se sucedem assim, dentro do esperado pelos estudiosos do desenvolvimento da linguagem. Nem em todas as crianças a sua sequência é natural, necessitando estes pequenos aprendizes de maior apoio, estimulação e de maior envolvimento DO meio e COM o meio que os rodeia.
Costumo por isso mesmo, aos pais e educadores que me procuram, dar esta noção do “passo à frente”, tanto em casos de patologia ou atraso do desenvolvimento global, da comunicação, da linguagem ou outro, como mesmo em crianças com desenvolvimento dito típico. Sim, pois a estimulação é feita sempre com este princípio, seja em que idade ou em que caso for.
Se a criança sorri, devemos verbalizar “estás feliz?”, “gosto de ti!”, “gosto de estar contigo!”, “tu gostas de estar aqui comigo?”, .. devemos ser a voz das suas palavras enquanto ela própria não as consegue produzir. Assim, vamos dando rótulos aos sentimentos, às emoções, … aos objetos, aos acontecimentos, .. tudo, … desde o mais abstrato ao mais concreto do nosso mundo.
Depois começa a fase da lalação, do balbucio, … os pequenos sons, repetidos sem fim, … “mamamama”, … “papapapa”, … as suas variações “mamapa”, … “titipo”, .. E porque não imitar a criança, acrescentando sons? Porque não concretizar o “mamamama” como “mamã” ou o “papapapapa” como “papá”, quando estes lhe surgem ao alcance.
E com o apontar, porque não aproveitar para, também com ele, dar “voz” ao pensamento interior da criança, ainda incapaz de se manifestar em palavras? Não é por acaso que os programas de gestos infantis, tal como o Baby Signs que uso e amo de paixão, são eficazes! Claro, sempre acompanhados com o nosso “passo à frente”, ou seja, a linguagem! A criança gesticula e nós verbalizamos o que ela tenta transmitir pelo gesto, como que o “rotulando” e realizando em vocábulos.
E assim, esta sequência lógica, comum, … vai ganhando forma, até dar lugar à fala. Surge a primeira palavra, … mas aí, pensamos novamente já no próximo “passo à frente”: a combinação de palavras. “Mamã” pode ser um “anda mamã”, “gosto da mamã”. Um “pão” pode querer significar “quero pão”, “dá pão”, .. e assim, modelando aquilo em que a criança pode crescer em termos linguísticos estaremos sempre um “passo à frente”! Isto é motivar, é modelar, é estimular comunicação e linguagem, procurando o seu potencial máximo!
Depois devem chegar as frases cada vez mais complexas, e o nosso lema de “passo à frente” deve continuar sempre. O “quero pão” de outrora, pode ser agora um “quero pão com manteiga” ou um “quero comer pão e beber água”. O que hoje são conceitos concretos e palpáveis podem buscar o “passo à frente” com os conceitos abstratos, mais com o chegar dos três, quatro anos, … “o pão é bom”, “o bolo é delicioso”!
Assim se busca o desenvolvimento máximo da comunicação e da linguagem, a base do pensamento, das vivências diárias, .. da interação social e de tudo o que ela acarreta. Assim se deveriam estimular as nossas crianças. Assim se poderia implementar e fazer no dia-a-dia, em todas as oportunidades de comunicação: nos momentos da alimentação, do vestir, do deitar, nos passeios ao parque (cada vez mais substituídos por horas nos tablets, para terror dos meus pensamentos e de tantos pais)… em tarefas de pintar, em brincadeiras com os triciclos e no meio da terra. Sim, elas também fazem (MUITA!!!!!) falta.
Pais, educadores, professores, tios, avós, … todos temos este poder nas mãos. Vamos usá-lo em favor dos nosso pequenotes, … os que serão, pensando aqui também “um passo à frente”, os comunicadores, homens e mulheres do amanhã. Os que terão o destino na mão, … os que hoje, para já, nos deliciam e fazem sorrir, só por termos o privilégio de existirem nas nossas vidas.
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